quarta-feira, 16 de abril de 2008

Um futuro ex-analista de sistemas

No começo do meu envolvimento com a informática, lá pelo início da década passada, eu tinha uma bronca com os chamados analistas de sistemas. Para aquela antiga instância de mim mesmo, os analistas eram as pessoas que elaboravam e negociavam os equívocos que seriam, posteriormente, construídos tijolo por tijolo pelos vassalos programadores, que, ao final da história, nunca levavam a glória, mas sempre a culpa pelos eventuais problemas. Claro que eu me incluía junto aos vassalos, únicos detentores do talento genuíno da arte de escrever software.

O tempo passou, e eu fui vendo que a história não é bem assim. Criar um modelo de sistema e supervisionar o seu desenvolvimento tinha lá o seu charme também, além de pagar mais. Comecei até a achar que uma pessoa unicamente programadora tinha algo incompleto na carreira, uma espécie de inadequação para as tarefas mais abrangentes e multidisciplinares. (O tempo ia me provar errado novamente depois, mas essa é outra história.) O fato é que eu aceitei muito bem a minha transformação em analista de sistemas. E assim permaneci até hoje.

Um mero detalhe é o fato de eu não ter cursado nenhuma faculdade de "sistemas": Ciência da Computação, Engenharia da Computação, Análise de Sistemas, Processamento de Dados, ou qualquer outra. Eu até tenho curso superior (incompleto) em Administração de Empresas, o que certamente não me habilita a fazer nada além do que eu já faço: pensar, programar, entregar. Quando eu digo mero detalhe, é literal: exceto nos momentos de troca de emprego, não sinto falta de um diploma pendurado na parede (ou no fundo da gaveta). Qualquer diferença que eu sinta em relação a outro profissional vem da comparação do talento, conhecimento e experiência que temos. Nunca do título estampado no diploma do nobre colega.

Pois eis que hoje (olha que desinformado) fiquei sabendo que tramita no Senado Federal uma grande sacanagem (bom, lá é o lugar dessas coisas mesmo): um projeto de lei para regulamentar a profissão de Analista de Sistemas. Pra quem não quer sujar seu browser indo até o site do Senado, um resumo: o excelentíssimo senador Eduardo Azeredo (aquele do mensalão mineiro) sugere que apenas aqueles ilustres bacharéis graduados em computação & correlatos podem ganhar a vida denominando-se Analistas de Sistemas. Pronto, é o meu fim, pensei.

Ou não!, pensei de novo. Eu posso criar uma subclasse de Analista de Sistemas, ou uma classe irmã, ou até mesmo todo um novo framework curricular só pra mim. O que me traria grandes problemas empregatícios, já que nenhuma empresa iria precisar de quadros tão específicos. Sejamos genéricos então. Eu abandonaria o título de Analista de Sistemas, se fosse possível migrar para uma das seguintes profissões, felizmente ainda não regulamentadas:

  • Produtor de Sistemas: assim como um produtor musical, eu poderia me dedicar à organização dos componentes de um sistema de modo a extrair o melhor resultado possível, ou apenas o resultado desejado, se assim for. Por mim, seria uma profissão bacana e hypada, garantia de dinheiro e fama.

  • Tradutor Português-Assembler: na prática, no fundo, é isso o que acontece né? O cara te pede: "Quero poder imprimir direto daquela tela", e você diz o mesmo para o computador, só que em outras palavras.

  • Bacharel em Aprendizado com ênfase em (insira plataforma aqui): afinal, você pode até sair graduadíssimo da facul e louco para trabalhar regulamentado, mas terá a obrigação de, até o fim dos seus dias, aprender continuamente coisas novas que serão descartadas pouco tempo depois. E você será pago por isso.

  • Empresário de Sistemas: você abre uma empresa e contrata a si mesmo (sem exigir diploma). Sua empresa viverá de fazer sistemas sob contrato. As empresas contratantes nem precisam saber que, do outro lado, quem faz tudo é um sub-graduado, um técnico, um curioso qualquer. Tanto faz, pois é interessante em termos fiscais: as leis trabalhistas estão cada vez mais inadequadas mesmo, e não tem senador se mexendo nesse sentido.

Começo a ficar feliz em deixar de ser um Analista de Sistemas.

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