quinta-feira, 10 de abril de 2008

O corredor de saída ou Lições de humildade

Sair do meu ex-trampo não foi complicado. Eu já estava me sentindo um fantasma naquela empresa, já não tinha nenhuma participação decisiva em nada. Exceto, claro, nas emergências softwerísticas ou situações-limite propulsionadas por fatores que, OK, vou poupá-los dos detalhes. Como eu ia dizendo, já estava ali sobrando mesmo, falei que estava caindo fora e arrumei outro trabalho.

Arrumar outro trabalho significou investir um bom esforço na elaboração (palavra exata) de currículo, tentativas de contato com colegas e ex-colegas, sem falar na cabeça 100% voltada para as expectativas vindouras. Será que vão me retornar? Será que eu fui bem na entrevista? Será que eu pedi pouco? Será que eu pedi muito? Aquela ansiedade pré-adolescente.

Ansiedade alimentada por uma série de impressões erradas a respeito de mim mesmo e das minhas capacidades. Eu acreditava ser um profissional de muito valor, mas não é bem assim. Eu estou muito, muito longe disso, a despeito das minhas qualidades. (Algum dia eu posto a respeito delas.) Tenho passado por boas lições de humildade, que corrigem algumas presunções encalacradas na minha noção de "carreira":
  1. Eu não sou um bom programador em C++. O fato de eu ter me envolvido, por bastante tempo, em projetos ligeiramente complexos (leia-se: multithreading e integrações chatinhas) implementados em C++, não quer dizer, de jeito algum, que eu seja proficiente na linguagem ou que domine as ferramentas, construções, sintaxes, libraries, padrões e convenções conhecidos de trás pra frente pelo programador C++ mediano (ou medíocre, tanto faz).

    Atualmente estou começando a escalar a curva de aprendizado que, em algum dia, vai permitir que eu diga, sem constrangimento, que eu sou um programador em C++.

  2. Eu sou baby-boomer do desenvolvimento web. Dizer que eu já dormia com a mãe do <DIV> há 12 anos não é distintivo pra nada. É antes um sinal de senilidade, como a barriga de chopp depois dos 30, ou pêlos na orelha. Eu estou totalmente por fora da Web. Teria que aprender um monte de coisas de novo.

    Quando eu surfava na onda da tecnologia Web, o Java estava na versão 1.2, havia guerra dos browsers, falava-se em applets e cgi-bin, o formato GIF pertencia à Unisys e no rádio tocava Bittersweet Symphony. Pra ficar numa gíria idosa, muita água passou pela ponte.

  3. Eu sou fraco em engenharia de software. Por mais que a palavra metodologia provoque uma ereção mental em qualquer pessoa minimamente ambiciosa no setor informático, parece que a coisa real só é praticada mesmo por meia dúzia de afortunados, que depois vão contar vantagem em seus blogs. Eu fico só lendo os relatos e imaginando se um dia vai acontecer comigo também. Por enquanto, mal encostei na engenharia de software. Se eu quiser penetrar nela, vou precisar ser muito menos vacilante.
Este não é um post de chororô ou auto-humilhação. Escrevo essas coisas porque elas facilitam a minha vida, me dão rumo, me tiram da água parada. Eu corro na direção da dúvida. Se você me conhece e algum dia me perceber cheio de certeza, pode crer que eu não estou numa fase boa.

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