terça-feira, 15 de abril de 2008

A apatia é um hit

Nós, profissionais de TI (ou IT, pra quem gostar mais), gastamos boa parte do tempo mudando nosso jeito de trabalhar para que possamos acompanhar os movimentos do mercado -- especialmente o de trabalho, se você é como eu e não tem onde cair morto. Qualquer um que passe dois anos entretido com a informática percebe o fluxo de novidades, modas, big players e big losers que vêm e vão incessantemente. Tirando o COBOL, pouca coisa veio para ficar na boa e velha tecnologia da informação.

No meio de tantas (propaladas) mudanças de paradigma persiste um modelo de comportamento, uma erva daninha coletiva, que eu não resisto em dizer que é um grande sucesso da informática: o desinteresse, a apatia que os trabalhadores do ramo desenvolvem com o passar do tempo. Pode observar: o gestor cínico de hoje foi o programador passional há vinte anos. O cara que não quer mudar nada agora tinha uma cabeça fervilhando igual à sua, não muito tempo atrás.

Claro que existem programadores apáticos de 19 anos e gestores muito dinâmicos com 45 anos ou mais. Mas eu me atrevo a dizer que são exceções. E se me permitem voltar ao assunto principal, quero entender o que é que sustenta o sucesso do cinismo. Não pode ser motivação pessoal: "o meu sonho é ficar totalmente apático em 15 anos!"

As pessoas que têm o maior poder, hoje, nos nossos ambientes de trabalho, são, em grande parte, desconectadas de qualquer coisa que represente mudança ou melhora. No máximo elas fazem um curso para melhorar alguma habilidade ou algum "processo", seja para não ficar "desatualizado", seja por pressão das empresas. Estão condicionadas a esperar soluções prontas que ou têm efeito imediato ou não prestam. Estão, em português claro, de saco cheio. Qualquer sinal ou sugestão de melhora que implique empenho pessoal genuinamente interessado e disciplinado é encarado como uma futilidade, uma ingenuidade, algo que "claro que não vai funcionar".

Eu tive essa reflexão depois de pensar um pouco sobre o livro aí embaixo (The Mythical Man-Month) e também sobre outras leituras por aí. Existem literalmente toneladas de bom senso que podem ser facilmente digeridas por qualquer um. E as pessoas insistem em achar que não dá certo, não se aplica, ninguém faz isso, é muito difícil... e demais evasivas ainda mais fracas. Ficam desconfiados de tudo, ou acham que tantas boas idéias não passam de teoria -- e que na prática, a teoria é outra. (Essa é a pior de todas.)

Admito que bate um desespero ao saber que, do lado de fora do guarda-chuva da metodologia, existe uma tempestade de equívocos e más-intenções no seu cliente, parceiro, concorrente e até no seu círculo imediato de trabalho. A metodologia, qualquer uma, é frágil demais, é o vinho que, ao ganhar uma gota de água suja, já não presta. Talvez o tempo vá nos revelando que estamos cada vez mais sozinhos na nossa boa-vontade. Talvez o cinismo seja menos um sinal de covardia do que uma forma de atravessar a selva sem ser liquidado.

Eu gostaria de ver colaboração como regra, e não caso isolado. Mas desconfio que estou querendo demais. Acho que estou me deixando levar pelo idealismo. O que é isso, nem parece que eu tenho 30 anos.

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